Vandana Shiva, proeminente ambientalista e ativista, defende a semente como símbolo de liberdade frente ao monopólio agrícola e bioimperialismo. Em sua passagem pelo Brasil, destaca a urgência de práticas agroecológicas e a preservação da biodiversidade em meio à crítica ao "sistema antialimentar" que ameaça a natureza e a segurança alimentar.

Ativista indiana luta por 30 anos pela conservação das sementes tradicionais.

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A Semente como Símbolo de Liberdade

“A semente é um símbolo de liberdade numa era de manipulação e monopólio.” Essa afirmação poderosa pertence à ambientalista indiana Vandana Shiva, uma voz proeminente nas discussões globais acerca de sistemas alimentares, biodiversidade e justiça social. Shiva é também uma crítica ferrenha do que ela denomina "cartel do veneno" e "bioimperialismo", questões que envolvem ações de corporações transnacionais que dominam o setor agrícola.

Quem é Vandana Shiva?

Vandana Shiva, aos 71 anos, possui uma impressionante formação acadêmica, incluindo um doutorado em Física Quântica. Além disso, é uma filósofa, feminista e ativista admirada mundialmente. Sua jornada a levou de volta ao Brasil 32 anos após sua primeira visita durante a Cúpula da Terra, também conhecida como Ecologia 92 ou Rio-92. Atualmente, ela se encontra no Brasil para participar da Rio Innovation Week, que ocorrerá no Pier Mauá, no Rio de Janeiro, de 13 a 16 de setembro.

O Retorno ao Brasil

A palestra que encerrará o primeiro dia de eventos, intitulada "Lições de Vandana para o mundo", baseia-se em sua autobiografia Terra Viva - Minha Vida em Uma Biodiversidade de Movimentos, recém-lançada no Brasil.

Uma Vida Dedicada à Biodiversidade

Por mais de 50 anos, Vandana Shiva tem lutado em prol da preservação das florestas e do incentivo à agricultura orgânica. Sua trajetória a colocou em confronto com grandes entidades, como o Banco Mundial, a gigante do setor agroquímico Monsanto e o influente bilionário Bill Gates. Nos últimos três décadas, seu foco tem sido proteger as sementes naturais das tentativas de patenteamento que envolvem alterações genéticas.

Combate às Corporações e suas Práticas

Em sua luta, Shiva investigou plantações de eucalipto que destruíam florestas na Índia na década de 1980, e descobriu que eram financiadas pelo Banco Mundial. Além disso, em 1998, processou a Monsanto no Supremo Tribunal da Índia por introduzir sementes geneticamente modificadas no país sem a devida autorização.

Bioimperialismo e Monoculturas

Vandana Shiva define o fenômeno do controle corporativo sobre a agricultura como bioimperialismo, afirmando:

“É um imperialismo sobre a própria vida, que promove monoculturas responsáveis por 50% dos gases de efeito estufa e 75% das doenças crônicas."

O Cenário no Brasil

O Brasil, segundo Shiva, tornou-se um epicentro da produção de agrotóxicos e de organismos geneticamente modificados. Ela critica a noção de que o Brasil é simplesmente um "celeiro do mundo":

  • Produção Commodities vs. Alimentos:
    • O Brasil não produz a maior quantidade de alimentos, mas, sim, de commodities como a soja.
    • 90% do milho e da soja são transgênicos, utilizados principalmente para ração animal e biocombustíveis, ao invés de nutrir a população.

Propostas de Vandana Shiva

Shiva sugere uma alternativa onde a agroecologia seja priorizada, defendendo:

  • Fome Zero: Um plano onde agricultores adotem práticas agroecológicas e distribuam alimentos saudáveis para comunidades vulneráveis.
  • Diversidade Alimentar: Uma estrutura alimentícia baseada na biodiversidade, ao contrário da monocultura que a Monsanto e a Cargill promovem.

O Sistema Antialimentar

Shiva critica um sistema que, segundo ela, não nutre a população. Ela aponta que:

  • Concentração de Poder: Dez corporações controlam um "sistema antialimentar", onde quatro empresas dominam a produção de pesticidas e sementes geneticamente modificadas.
  • Patentes e Preços: As sementes naturais, escolhidas por agricultores ao longo dos séculos, estão sendo substituídas por versões geneticamente modificadas, elevando assim os custos de produção.

A Luta pelo Acesso às Sementes

As sementes, que têm o potencial de se renovar, estão sendo transformadas em mercadorias, o que, para Shiva, significa um roubo da capacidade da Terra de gerar vida:

“Transformá-las em bens privados rouba da natureza a capacidade de se renovar.”

Em 1991, Shiva fundou a Navdanya, que em sânscrito significa "nove sementes". Esta organização visa promover a biodiversidade e o direito dos agricultores de cultivar e trocar sementes, além de manter um grande banco de sementes com mais de 4.000 variedades de arroz e diversas plantas medicinais.

Compromissos em Defesa do Planeta

Shiva participou da elaboração da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) durante a Cúpula da Terra, que visa preservar a biodiversidade e os recursos genéticos. Voltar ao Rio de Janeiro, 32 anos depois, é uma oportunidade de ressaltar a importância de relembrar os compromissos assumidos na época.

Uma Mensagem de Esperança

Apesar do cenário preocupante em relação aos problemas climáticos, Shiva ainda acredita que:

"É sempre um bom momento para acordarmos. Para a natureza, nunca é tarde demais. Para a humanidade, nunca é tarde demais."

Ela afirma que a vida continua a se renovar, apontando para a necessidade urgente de uma mudança na forma como interagimos com a terra e os recursos que ela nos oferece.

FAQ Perguntas Frequentes

Quem é Vandana Shiva e qual é sua contribuição para a luta ambiental?

Vandana Shiva é uma ambientalista indiana com um doutorado em Física Quântica, conhecida mundialmente por suas contribuições à justiça social e aos sistemas alimentares sustentáveis. Ela tem lutado por mais de 50 anos pela preservação da biodiversidade, o incentivo à agricultura orgânica e a proteção das sementes naturais contra o bioimperialismo e as práticas de monocultura.

O que é bioimperialismo e como Vandana Shiva o define?

Bioimperialismo, segundo Vandana Shiva, é o controle corporativo sobre a agricultura que promove monoculturas e agrava problemas ambientais, como as mudanças climáticas. Ela critica o poder que grandes corporações têm sobre o sistema alimentício, afirmando que esse controle resulta em prejuízos significativos para a saúde da população e do meio ambiente.

Como Vandana Shiva vê a situação alimentar no Brasil?

Vandana Shiva critica a imagem do Brasil como "celeiro do mundo", enfatizando que o país é um grande produtor de commodities, muitos dos quais são transgênicos, em detrimento da produção de alimentos nutritivos para a população. Segundo ela, 90% do milho e da soja produzidos no Brasil são utilizados para ração animal e biocombustíveis, e não para alimentar as pessoas.

Qual é a proposta de Vandana Shiva para combater a fome?

Vandana Shiva defende a agroecologia como uma solução para a fome, propondo iniciativas como o plano "Fome Zero". Este plano busca adotar práticas agrícolas sustentáveis e garantir que alimentos saudáveis cheguem até comunidades vulneráveis, promovendo uma alimentação e produção diversificadas.

O que é a Navdanya e qual é sua importância?

Navdanya é uma organização fundada por Vandana Shiva em 1991, cujo objetivo é promover a biodiversidade e os direitos dos agricultores de cultivar e trocar sementes. O nome significa "nove sementes" em sânscrito e a organização mantém um banco de sementes com mais de 4.000 variedades de arroz e diversas plantas medicinais, apoiando a diversidade agrícola.

Qual é a mensagem de Vandana Shiva sobre a urgência da mudança climática?

Vandana Shiva acredita que, apesar dos desafios enfrentados em relação às mudanças climáticas, nunca é tarde para agir. Ela defende que precisamos urgentemente mudar nossa relação com a terra e seus recursos, enfatizando que a vida tem o potencial de se renovar e que ações positivas podem ainda trazer transformações significativas.

Como Vandana Shiva relaciona a concentração de poder com a produção alimentar?

Vandana Shiva critica a concentração de poder nas mãos de poucas corporações que dominam a produção de pesticidas e sementes geneticamente modificadas, o que, em sua visão, resulta em um "sistema antialimentar". Essa concentração gera um aumento nos custos de produção e uma substituição das sementes tradicionais, impactando negativamente os agricultores e a biodiversidade.

Autor: Joyce Dias Webneder
Data de Publicação: 13/08/2024