Em julho de 2023, o Congresso Botânico Internacional em Madrid não apenas trocou "caffra" por "affra" para cerca de 200 espécies, mas também acendeu um debate sobre nomenclatura, política e reconciliação histórica. Esse evento destaca a crescente sensibilidade no mundo da botânica em relação às implicações sociais de termos científicos.

Botânicos renomeiam planta devido a conotação racista associada.

Créditos e Referência da Imagem

Mudança de Nomenclatura no Mundo Botânico

A Decisão Circunstancial

Em julho de 2023, no Congresso Botânico Internacional realizado em Madrid, uma alteração notável ocorreu na nomenclatura científica: o termo "caffra" foi substituído por "affra" para cerca de 200 espécies de plantas. Essa mudança gerou um amplo debate devido à suas implicações históricas e sociais. Embora a maioria dos participantes afirmasse que a intenção era corrigir um erro de grafia, poucos acreditavam que "caffra" tivesse sido um erro.

O Contexto Histórico

O Uso do Termo "Caffra"

Por muitos séculos, o termo "caffra" foi utilizado para designar plantas que crescem na África. Entretanto, sua origem está ligada a "Kaffir", uma expressão latinizada que atualmente é considerada altamente ofensiva para os africanos negros e, em países como a África do Sul, seu uso pode acarretar penalidades severas, como multas ou prisão.

Opiniões Divergentes

Nigel Barker, um botânico da Universidade de Pretória, enfatizou a importância de reconhecer os erros do passado, afirmando que mudanças como essa são essenciais para a reconciliação. Ele lembrou que muitos nomes oficialmente utilizados durante o apartheid foram abandonados em favor de uma linguagem mais respeitosa e inclusiva.

O Debate Sobre Nomes Científicos

Precedente Histórico

Os debates sobre a nomenclatura, especialmente os nomes que fazem referência a figuras históricas controversas, têm se tornado cada vez mais comuns. Os cientistas de insetos já removeram termos como "mariposa cigana" e "formiga cigana" devido ao seu caráter pejorativo em relação ao povo romani. Essa mudança no cenário científico sugere uma crescente conscientização sobre a linguagem utilizada na descrição das espécies.

A Rebelião Botânica

A mudança no nome "caffra" sinaliza uma ruptura significativa, pois, segundo Dirk Albach, editor-chefe da revista Taxon, representa o primeiro momento em que a comunidade botânica rejeitou um nome não por questões científicas, mas por considerações políticas e sociais. Isso foi evidenciado em uma votação acirrada: 351 votos a favor da mudança e 205 contra.

Implicações Futuras

Possíveis Desdobramentos

Sergei Mosyakin, presidente da Sociedade Botânica Ucraniana, expressou preocupações de que essa mudança poderia iniciar uma onda de renomeações semelhantes, considerando que existem inúmeras designações científicas que podem ser interpretadas como ofensivas. Exemplos incluem termos que fazem alusão a "niger" (que significa "preto" em latim) e "Hottentot", um apelido depreciativo associado ao povo Khoekhoe.

Estabilidade x Mudança

Fred Barrie, botânico do Museu Field em Chicago, apontou que, embora a estabilidade na nomenclatura científica seja crucial, a mudança de milhares de nomes poderia tornar-se um desafio logístico imenso. No entanto, existem vozes, como a do botânico Timothy Hammer, que estão dispostas a lutar por uma mudança mais abrangente na nomenclatura, visando eliminar referências a figuras históricas condenáveis.

Conclusões e Expectativas

Um Futuro Promissor

Embora a mudança para "affra" já tenha tido ampla aceitação, não se pode prever uma reavaliação imediata de outros nomes científicos. Contudo, a discussão gerada em torno da nomenclatura botânica poderá abrir portas para um futuro onde os nomes de espécies sejam mais sensíveis às questões culturais e históricas. Uma maioria no Congresso Botânico indica que, após 2025, novas designações poderão ser rejeitadas caso sejam consideradas pejorativas.

Por fim, esse caso reforça a necessidade de reflexão contínua sobre como a linguagem molda a percepção científica e a importância de um diálogo respeitoso sobre questões históricas e sociais.

FAQ Perguntas Frequentes

Qual foi a mudança mais significativa na nomenclatura botânica discutida em julho de 2023?

A mudança mais significativa foi a substituição do termo "caffra" por "affra" para aproximadamente 200 espécies de plantas, como decidido durante o Congresso Botânico Internacional em Madrid. Essa alteração gerou debates sobre suas implicações históricas e sociais.

Por que o termo "caffra" foi considerado problemático?

O termo "caffra" tem uma origem ligada à palavra "Kaffir", que é considerada altamente ofensiva para os africanos negros. O uso deste termo, historicamente empregado para designar plantas na África, pode acarretar ainda penalidades severas em alguns países, como a África do Sul.

Quais foram as reações dos especialistas a essa mudança?

Especialistas como Nigel Barker, da Universidade de Pretória, apoiaram a mudança, enfatizando a importância de reconhecer erros do passado e a necessidade de uma linguagem mais respeitosa. Eles destacaram que muitos nomes que eram utilizados durante o apartheid foram abandonados em busca de inclusão.

Essa mudança de nomenclatura pode afetar outros nomes científicos no futuro?

Sim, há preocupações sobre a possibilidade de uma onda de renomeações. Cientistas, como Sergei Mosyakin, mencionaram que existem muitos outros nomes científicos que podem ser considerados ofensivos e que, assim como "caffra", podem estar sujeitas a mudanças similares.

Como a comunidade científica tem tratado questões de nomenclatura problemática anteriormente?

A comunidade científica tem debatido mudanças em nomes que fazem referências a figuras históricas controversas e a termos pejorativos em relação a grupos sociais. Por exemplo, já foram removidos nomes como "mariposa cigana" e "formiga cigana", sinalizando uma conscientização crescente sobre o uso da linguagem.

Quais desafios podem surgir com a mudança de nomes científicos?

Embora a mudança para "affra" tenha sido amplamente aceita, existe uma preocupação com a estabilidade na nomenclatura científica. Uma alteração em massa de nomes pode se tornar logisticamente desafiadora, uma vez que muitos termos estão bem estabelecidos.

O que o futuro reserva para a nomenclatura botânica?

Embora a mudança para o termo "affra" tenha sido bem recebida, não se espera uma reavaliação imediata de outros nomes. No entanto, a discussão criada em torno da nomenclatura pode incentivar futuras modificações, visando uma maior sensibilidade cultural nas denominações científicas. Após 2025, novas designações podem ser rejeitadas se consideradas pejorativas.

Autor: Joyce Dias Webneder
Data de Publicação: 12/08/2024