A ausência paterna molda trajetórias e emoções de filhos de diversas maneiras. Seja através de lembranças distantes, como Luana e Letícia, ou da escolha de não celebrar a data, cada relato revela como a falta ou presença de figuras paternas impacta na vida e nas relações familiares.

Filhos transformam o Dia dos Pais sem a presença dos pais biológicos.

Créditos e Referência da Imagem

O Impacto da Ausência Paterna na Vida de Filhos

Uma Relação Distante

Luana Vidal, de 25 anos, compartilha uma história que pode ser comum para muitos: seu último contato com o pai ocorreu há cinco anos, em uma audiência judicial relacionada à pensão alimentícia. Na época, Luana estava cursando Gestão de Eventos e foi chamada a prestar declarações sobre o benefício que o pai insistia em não pagar. Contudo, seu último Dia dos Pais ao lado dele remonta a mais de dez anos.

Memórias da Infância

Luana recorda com clareza os momentos em família, como um simples churrasco no Dia dos Pais, mas as visitas do pai sempre foram esporádicas desde os dois anos de idade, quando seus pais se separaram. “Ele tentava ver a gente todo mês, de alguma forma”, relembra. As reuniões costumavam ocorrer em shoppings, durante almoços. A vida de Luana mudou ainda mais quando conheceu seu irmão mais velho, que cresceu com a mesma ausência paternal.

O Peso da Comemoração

Passar o Dia dos Pais longe do pai biológico trouxe um incômodo inicial para Luana, especialmente em eventos onde todos os primos estavam acompanhados pelos seus pais. “Eu lembro de uma ou duas festas de escola que não tinha meu pai para me levar, isso me deixou desconfortável”, confessa. Com o tempo, porém, essa sensação foi se amenizando.

O Executivo da Psicologia

De acordo com Belinda Piltcher Haber Mandelbaum, psicóloga e docente da Universidade de São Paulo (USP), a ausência paterna pode ser mais pesada na infância do que na vida adulta. “É na vida adulta que a percepção dessa figura ausente vai se desvinculando”, explica a especialista. Luana atualmente celebra a data com sua mãe, avô materno e padrasto, considerando ambos referências paternas. “Eu nem saberia o que presentear meu pai biológico”, observa.

Reinterpretando Relações Afetivas

Reconhecimento de Novas Figuras Paternas

Na atualidade, é comum que muitas pessoas usem o Dia dos Pais como uma oportunidade de homenagear figuras que representaram um papel paterno em suas vidas, como mães, avós ou tios. A psicóloga Manuela Moura também ressalta que o reconhecimento do referencial paterno não é limitado a laços biológicos.

“Essas pessoas que foram significativas na sua educação e formação merecem ser lembradas”, destaca a profissional.

Além disso, Manuela diferencia tipos de abandono: aquele em que o pai está registrado, mas não presente, e o abandono emocional, que ocorre quando o pai está fisicamente presente, mas emocionalmente ausente.

Luto e Relações Complicadas

Viver a Perda

Letícia Gosse, 27 anos, vivenciou uma dinâmica complexa em seu relacionamento com o pai. Embora tenha seu nome no registro, ela nunca o conheceu e só se encontrou com ele proximamente de sua morte. “Vivi um luto dessa relação durante toda a minha vida”, diz Letícia, que se lembrou da relação que seu irmão teve com o pai, algo que frequentemente a deixava triste.

Atualmente, ela celebra o Dia dos Pais com seu marido e seu filho, Nael, de 10 meses. “Estou pensando no que ele gostaria de ganhar”, diz enquanto planeja o presente que será do filho.

O Desejo por Uma Nova Narrativa

Para Letícia, a construção de um ambiente familiar estável é crucial. “Quero que meu filho entenda a importância da figura paterna e, se um dia ele decidir ser pai, espero que seja presente”, considera. Esse desejo é uma forma de reparar a ausência que experimentou ao longo da vida.

Escolhas de Não Comemorar

Uma Decisão Pessoal

Luis Felippe Fonseca de Oliveira, de 23 anos, por outro lado, optou por não comemorar o Dia dos Pais. Embora tenha tido algum contato com seu pai durante a infância, sua relação se estagnou, levando-o a ignorar a data. “Agora, trato o dia como um domingo normal”, revela.

Redefinindo o Dia dos Pais

A psicóloga Manuela Moura salienta que, para muitos, não faz sentido celebrar essa data. O importante, segundo ela, é que as pessoas façam do Dia dos Pais uma ocasião que lhes traga conforto. “Se não há razões para comemorar, que a pessoa escolha fazer algo que lhe dê prazer”, finaliza.

Em Resumo

As experiências divergentes de filhos com pais ausentes revelam a complexidade das relações familiares e a maneira como cada um lida com a ausência e a presença. Seja celebrando ou ignorando as datas, a narrativa é única e reflete a individualidade de cada história.

FAQ Perguntas Frequentes

Qual é o impacto emocional da ausência paterna na infância?

A ausência paterna pode gerar sentimentos de desconforto e dor nas crianças, especialmente durante momentos de celebração, como o Dia dos Pais. Esse impacto tende a ser mais evidente na infância, mas pode diminuir com o tempo. A psicóloga Belinda Piltcher ressalta que a percepção da ausência paterna muda à medida que se entra na vida adulta.

Como lidar com a falta de uma figura paterna?

É comum que muitos busquem outras figuras que desempenham papéis paternos em suas vidas, como mães, tios ou avós. Manuela Moura, psicóloga, enfatiza que é importante reconhecer e homenagear essas pessoas que foram significativas na formação e educação ao longo da vida, independentemente de laços biológicos.

O que fazer no Dia dos Pais quando não se tem um pai presente?

Cada pessoa pode decidir como abordar o Dia dos Pais, dependendo de suas experiências pessoais. Alguns optam por não comemorar a data, enquanto outros escolhem celebrar com figuras paternas alternativas ou criar novas tradições significativas. O mais importante é que a data traga conforto, conforme orientado pela psicóloga Manuela Moura.

Quais são as diferentes formas de abandono paterno?

Existem duas formas principais de abandono: a ausência física, onde o pai não está presente na vida da criança, e o abandono emocional, em que o pai pode estar presente fisicamente, mas emocionalmente distante. Essa distinção é fundamental para entender como a ausência paterna pode afetar o desenvolvimento emocional da criança.

Como a ausência paterna influencia a construção de novas relações familiares?

A ausência de uma figura paterna pode levar a uma reflexão importante sobre como construir relacionamentos familiares saudáveis. Indivíduos que cresceram sem a presença do pai muitas vezes desejam criar um ambiente estável e presente para seus próprios filhos, garantindo que não passem pela mesma ausência que eles vivenciaram.

Por que algumas pessoas escolhem não celebrar o Dia dos Pais?

A decisão de não celebrar o Dia dos Pais pode ser motivada por uma variedade de experiências, como relacionamentos complicados ou a falta de uma conexão emocional. Para algumas pessoas, a data pode ser um lembrete doloroso e, portanto, optam por tratá-la como qualquer outro dia.

Como a presença de novos parceiros pode influenciar a dinâmica familiar?

A presença de padrastos ou novos parceiros pode oferecer um novo referencial paterno significativo para crianças que cresceram sem a presença do pai biológico. Isso pode ajudar a criar laços emocionais importantes e preencher o vazio deixado pela ausência do pai.

Autor: Joyce Dias Webneder
Data de Publicação: 10/08/2024